Jupiter Carvalho Silva(Selecionado)

071031040 era um bebe sem nome, apenas com um numero de protocolo e até bastante normal que infelizmente nasceu já em um orfanato, depois que sua mãe, uma pirralha qualquer de 12 anos, deu entrada no hospital público de Jaguapitã, acometida de uma forte dor abdominal e um sangramento incontrolável. Ela foi operada as peças para que se estancasse a hemorragia, mas já era tarde demais para a garota.
Enquanto isto, estranhamente no ultra som algo se mexia descontroladamente dentro daquele novo cadáver!
Depois de 12 horas de cirurgia e uma rápida autopsia os médicos finalmente descobriram a causa da morte: Uma tentativa falha de aborto, com uma agulha de lã. Surpreendentemente o feto de apenas 28 semanas conseguiu sobreviver fora do útero materno, sendo mantido até os 2 meses de vida em uma incubadora, quando então foi transferido para uma casa de assistência a criança e ao adolescente.
Como havia sido vítima de aborto e não apenas de um parto muito prematuro, onde teria pelo menos uma gestação assistida, Júpiter nasceu extremamente pequeno, com pouco peso e a imunidade muito baixa. Apesar de ter saído do hospital, quando chegou ao orfanato ainda era menor do que um recém nascido. Doente e sem uma perna estava fadado a viver em um orfanato para o resto da vida. Estaria.
Enquanto este pequeno bebe era cuidado por mães e tias sociais em Jaguapitã, Paraná, muito longe, em Recife, dois jovens rapazes tentavam começar a vida. O mais velho deles, Fabio com então 34 anos na espoca cuidava de uma boate até bastante freqüentada pelos casais. Já José, seu companheiro de quarto ainda cursava a pós graduação todos os fins de semana na universidade de São Paulo. Os dois se viam a semana inteira, exceto nas horas de trabalho ou estudos e se assumiam publicamente sem nenhuma vergonha. Os desconhecidos falavam mal, os amigos falavam bem e a vida deles era relativamente boa para um jovem casal de classe media alta. Mas a cada dia, os dois aumentavam os anseios por um desejo único e compartilhado por milhares de adultos em todo mundo. Eles queriam ter um filho.
Um bebe, uma criança, um adolescente... Qualquer coisa que fosse diferente de todos os cães que cuidavam nas horas vagas. Os dois já haviam entrado com pedidos na justiça diversas vezes, mas eram sempre barrados e uma dor preenchia seus peitos como mil facas entrando nas costas de um único individuo.
Então cansados de procurar o casal resolveu sair de férias. Sem crianças e nada que os impedisse, não estavam mais com tanta vontade de esperar uma decisão da justiça para poderem ser felizes, e decidiram torrar boa parte do dinheiro que tinham guardado em uma viagem só para eles.
Pegaram o avião de madrugada, percorrendo boa parte do pais por mais ou menos um mês. Todo dia estavam em um local diferente, com um carro diferente, visitaram locais interessantes e desinteressantes, como o belo Cristo no rio ou as tediosas praias Paranaenses. Fotografavam a tudo que viam, iam sempre que podiam a restaurantes e conheciam pessoas novas. Mas é claro, como em toda viagem também tiveram suas dificuldades.
Em um dia de chuvas em que andavam pela região de Londrina, mais precisamente na cidade de Jaguapitã foram obrigados a parar e esperar um reboque da alugadora. Presos numa cidade de 20000 habitantes não havia muita coisa a se fazer por ali, a não ser umas compras e esperar o tempo passar.Os dois já tinham andando por todo o comercio, até mesmo nas lojas de sapatos quando terminaram parando em uma das sorveterias. Próximo a mesa deles um grupo grande de mais ou menos umas 30 pessoas conversava.

“Coitadinho, aquele não tem jeito”...
“Até as gêmeas foram levadas, e elas já tinham 7 anos... Uma família de São Paulo as adotou!”
“Mãe, mas ele nem tem nome? Por que ninguém encaminhou ainda”.

Era mais do que obvio que aquele assunto interessou ao Fabio, que não demorou em esticar a orelha e tomar conhecimento de toda a situação. Menos de meia hora depois, Fabio, José e os 30 amigos novos estavam espremidos dentro do orfanato admirando o estranho bebe que chorava copiosamente enquanto uma fralda mal colocada lhe fazia escorrer pingos de excremento para o lado direito do berço, deixando o ambiente com um cheiro insuportável, enquanto algumas moças visivelmente enojadas se recusavam a trocá-lo.

Na manha seguinte o Juiz da cidade já estava feliz com singelos 7000 reais e um carro novo, e o casal voltou com seu filho, agora batizado como Júpiter, a cidade de Recife.