19 de Abril | Sexta| Noite|RP Fechada | Lago

Amar!

e Não de Homens!

As aulas na AML estavam indo bem. Eu já havia me acostumado ao ritmo do Brasil, apenas o sotaque que eu fazia questão de não me entregar ao latino, meus trejeitos europeus também denunciavam o gringo que eu era e ainda sou, mas fazer o que, sou feliz assim.

Tudo acontecendo normalmente, trabalhos, tarefas, passar um tempo com os irmãos e primos, principalmente com Bellia que estava com raiva por eu não ter ido ver seu teste para entrar para a equipe de Quadribol, ela iria entender, eu estava estudando e talvez eu lá fosse atrapalhar mais ainda, não sirvo para ver esses esportes que uma criança igual ela pode acabar se ferindo feio, então preferi ficar de longe e depois agradar minha irmã com mimos e pedidos de desculpas.

Quando não estava com meus familiares, eu estava com os amigos, principalmente com Leonel que era meu companheiro para qualquer coisa acadêmica. Mas hoje não o encontrei, ele acordou cedo, mais cedo que o de costume e já saiu, o vi nas aulas, mas nas aulas eu converso pouco, a verdade é que nos desencontramos o dia inteiro e de noite senti falta disso, por algum motivo, ah ele é meu amigo não é?! Deve ser por isso.

Sabia onde iria encontrá-lo, de noite, nas estrelas, quero dizer, nos jardins. Era um lugar aonde ele sempre ia e eu acabava lhe fazendo companhia, as vezes acabávamos até tomando detenção, sabe, depois do toque de recolher é proibido andar por ai, é por ele e por Bellia que eu não sou o aluno exemplar. Assim pela noite, assim que deu o toque de recolher eu sai do dormitório, vesti uma roupa confortável para as noites brasileiras, peguei um livro para distrair e fui para os jardins, não demorou muito e encontrei quem eu queria.

– É tão previsível te encontrar pela noite Leonel. – Eu disse me aproximando do meu amigo. – Atrapalho ou posso me sentar aqui?

Amar!

e Não de Homens!

A verdade é que depois do ocorrido com o monitor à alguns dias atrás eu fiquei diferente. Talvez culpado, mas pelo que? Eu sou solteiro, não devo nada a ninguém. É difícil explicar, mas o que sei é que estou nitidamente diferente desde o dia dezessete.

O pior é que eu mudei mesmo com Leonel, do dia seguinte não consegui olhar para ele sem ficar sem jeito. Podia ter dito o que havia acontecido, afinal ele é meu amigo, meu melhor amigo, iria entender, mas algo me impedia. Claro que era a timidez, mas além dela tinha algo a mais, talvez receio, talvez outra coisa.

É um tanto óbvio, não precisa ser nenhum gênio para sacar o que estava acontecendo. Foi preciso eu fazer aquilo, não que me arrependa, mas foi preciso tudo aquilo acontecer para eu entender tudo. Eu gosto de Leonel, não como eu gosto dos meus outros (poucos) amigos, de uma maneira especial. Eu me metia nas discussões que raramente ele se metia, apenas para protegê-lo, ficava furioso quando via alguma menina conversando com ele e queria morrer quando ele fazia trabalho em dupla com outra pessoa. Eu pensei que era ciúme de amigo, coisa mais que comum, mas não é bem isso.

Vi aquele garoto magrelo virar um homem em anos. A puberdade e a rebeldia viraram figuras principais em determinadas épocas da vida acadêmica e agora, já praticamente dois homens feitos foi que tudo fez sentido. Sonhava com ele, ficava preocupado com ele, ficava seguro quando estava com ele, e todo atrapalhado conversando com ele. Leonel, o nome do garoto que eu gostava, sim eu gostava de garotos, mas isso fica para uma outra ocasião.

Leonel a luz do luar ficava ainda mais radiante, seus olhos formavam uma aliança com a lua que me hipnotizava ainda mais, mas tudo mudou com a pergunta dele, pergunta que me fez engolir seco e engasgar com ar.

– Garotas?! É que... Não... Acho que já comentei sim com você. – Disse me recompondo e olhando para o céu, a estrela que Leonel havia rebatizado estava lá, brilhando como os olhos dele e o lugar, na verdade, acho que tudo brilhava mais quando estava com ele. – Mas respondendo a sua pergunta, ainda que se afastando do foco ‘garotas’, sim eu já me apaixonei. E você? Não vai me dizer que está apaixonado e quer conselhos a respeito. – Disse tentando parecer calmo.

Amar!

e Não de Homens!

A situação ficou desconfortável, a pergunta me deixou sem graça e eu tinha certeza que ele não deixaria de notar que eu desviei do assunto garotas. Tudo ainda ficou pior quando ele disse o motivo do interesse, talvez estar apaixonado por uma menina da escola não foi a noticia mais alegre que eu recebi no meu dia.

Apesar de gostar dele, eu sei que não faço o tipo dele, quero dizer, nunca ele me deu motivos para ter esperanças, mas agente sempre tem não é?! Caçamos esperanças nos olhares inocentes que recebemos, as vezes nos abraços de amigos que ganhamos e até nas brincadeiras idiotas que fazemos, tudo isso é motivo para tentar achar esperança, mas no fundo eu era racional, não tinha a mínima chance.

– Bem, antes de tudo você deve saber se você também a deixa “doida”. – Disse meio neutro olhando para o céu.

Leonel voltou a mencionar o fato de não falarmos muito sobre garotas, dessa vez ele resolveu deitar-se no gramado para observar melhor as estrelas, eu permaneci sentado, com pernas de índios e começando a folhear o livro que eu tinha em mãos. Tudo mudou quando o calor veio, quer dizer, o Brasil é um país quente mesmo, eu já havia me acostumado, mas Leonel sempre foi mais “quente” que eu, quente o bastante para tirar a blusa, quente o bastante para tirar até a camiseta. Minha reação foi tentar não reparar, algo realmente impossível, eu não parava de olhar e ele devia ter notado.

Leonel deitou-se e não demorou muito para ele cochilar ao meu lado, o cara que eu gostava, deitado, do meu lado, sem camisa, algo realmente que me deixou sem graça. Assim que ele cochilou eu respondi a sua pergunta, fitando-o bem próximo a ponto de sentir sua respiração.

– É normal falarmos de mulheres quando ambos gostamos da coisa. – Disse bem baixo, mas que se ele estivesse acordado ouviria, o que não era o caso. Me afastei um pouco e me deitei ao seu lado, escorreguei minha mão suavemente pelo seu rosto e fitei rapidamente seu tórax, fiquei sem graça, mas não demonstrei, embora a minha mão acariciando a bochecha de Leonel já fosse demonstração demais do que estava acontecendo comigo. – Por que eu não consigo dizer o que sinto ein?! Porque você também é tão cego?! É tão nítido ver o que está acontecendo aqui. O que eu sinto por você é mais que amizade, falta só você perceber isso.

Amar!

e Não de Homens!

Eu sinceramente não sabia o que tinha acontecido comigo, dada as circunstancias e algo foi mais forte que eu. Claro que eu pensei que Leonel estava dormindo, mas também não fiz nada demais, apenas falei demais, como sempre faço.

Leonel levantou rapidamente, assim que terminei de falar e sentia que esse era o fim. Ele falava rápido, enquanto pegava suas coisas, desmontava seu telescópio, tudo desordenadamente, insanamente. Meu “amigo” falava coisas sobre trair a confiança dele, mas o que eu estava fazendo? Contando tudo o que eu sentia, tudo o que tinha que contar, não havia porque falar da minha preferência para ele, “oi Leonel tudo bem, comeu o que no café, a propósito eu sou gay...” tinha que ser algo no momento certo.

E agora com o a ideia de eu estar confundindo as coisas? Ele acha que eu sou uma criança que confunde o dever de matemática com geografia? Eu tinha essa ideia fixa e isso me perturbava todos os dias, não conseguia me concentrar em mais nada, era só nisso que eu pensava, eu gostando do meu melhor amigo... isso não era certo. Se despedir com um “Adeus e Até nunca mais” foi infantilidade demais da parte dele, mas eu também não iria exigir muito, foi um choque para ele, um choque eu no fundo já esperava, só não queria admitir.

– Calma Leonel. Vamos conversar. – Eu disse tentando segurar seu braço, em vão. – Não fala assim. – eu tentava parecer calmo, mas era impossível, meus olhos já estavam marejados e não era de sono.

Leonel saiu dos jardins apressadamente, deixando para atrás a camisa que havia tirado, eu tentei entregá-la a ele, mas ele não me ouviu, já havia me deixado no jardim sozinho, em um estado deplorável e com uma camiseta que iria me lembrar ele a cada momento que olhar para ela.